Qual colutório bucal deve ser usado nos pacientes internados em unidades de terapia intensiva?
Segundo Martins (2008), os pacientes de terapia intensiva com frequência permanecem com a boca aberta, devido à intubação traqueal, permitindo a desidratação da mucosa oral. A diminuição do fluxo salivar permite aumento da saburra ou biofilme lingual (matriz orgânica estagnada) no dorso da língua, o que favorece a produção de componentes voláteis de enxofre, tais como mercaptanas (CH SH) e sulfi dretos (SH) que têm odor desagradável e colonização bacteriana.
Segundo Pace et al. (2008),a impossibilidade do autocuidado em pacientes de UTI favorece a precariedade da higienização bucal com o aumento da quantidade de Biofilme Dental, acarretando o desequilíbrio da microbiota residente.
Salienta-se que os patógenos respiratórios que se estabelecem no Biofilme Dental podem ser de difícil erradicação, pois o Biofilme Dental atua como um protetor as bactérias inseridas nele, principalmente contra antibióticos e antisépticos (SCANNAPIECO, 1999 apud SATO 2009 p.33).
As alterações bucais têm alta representatividade em pacientes críticos hospitalizados, além do forte odor bucal tornando-se uma dificuldade de abordagem para a equipe multiprofissional. Um outro ponto a ser considerado é o impacto do fraco estado nutricional repercutindo na cavidade oral, pois estes pacientes recebem nutrição enteral ou parenteral, o que reduz a capacidade de reparação tecidual e reduz a imunidade a infecções devido a inadequada nutrição. (SANTOS et. al, 2008).
Lindhe (1999) relatou que a placa bacteriana produz substâncias irritantes (ácidos endotoxinas e antígenos) que com o passar do tempo invariavelmente destroem dentes e tecidos de suporte.
A escolha de um produto enzimático como método auxiliar na redução da placa bacteriana bucal, se dá pela ausência em sua composição de substância abrasiva (álcool, detergente, corante) que prejudica ainda mais a mucosa bucal já comprometida. Também importante, que o produto enzimático contém a lactoferrina, que através de sua ação e suas interações na saliva reduz a incidência de Cândida albicans e Cândida krusei na mucosa oral. (SANTOS, 2008).
Os antisépticos agem rapidamente em variados sítios de ação e estão menos propensos a desenvolver resistência medicamentosa (CHAN et al., 2007).
De acordo com Souza (2007), os meios mecânicos isoladamente apresentam limitações, especialmente em áreas interproximais, especialmente pela destreza dos pacientes. Sua combinação com uso dos agentes químicos tem sido apresentada como a medida mais eficaz para controle do biofilme oral nos pacientes de alto risco. O controle químico tem sido utilizado como auxílio do controle mecânico, especialmente em pacientes mental e fisicamente incapacitados.
O digluconato de clorexidina é bactericida e bacteriostático, dependendo de sua concentração tendo efeito antimicrobiano de amplo espectro sob os Microorganismos patogênicos (SOUZA, 2007).
Estudos de BONESVOLL (apud SOUZA,2007,p.19), mostram que a clorexidina tem uma acentuada capacidade de adsorção nos dentes e nas mucosas. A substantividade da clorexidina deve-se a sítios de retenção na cavidade oral, sendo liberada no período de 24 horas. Inúmeros estudos demonstraram a eficácia do digluconato de clorexidina 0,12% na redução e formação do biofilme oral ( LANG et al., 1998).
Entretanto o uso diário de solução com clorexidina 0,12% apresenta efeitos colaterais indesejáveis como manchas nos dentes, língua, perda do paladar e sensação de queimação na mucosa oral (MARINHO, 2007).
A clorexidina foi introduzida na odontologia há mais de trinta anos como enxaguatórios bucais que apresentam largo espectro tanto contra bactérias gram positivas quanto gram-negativas.(SOUZA, 2007).
A clorexidina, quando usada em baixas concentrações, tem efeito bacteriostático. Esta substância provoca diversas alterações nas bactérias,entre outras alterações, alteração no mecanismo da membrana da bactéria ATP-ase.Diminuição do fósforo e potássio da membrana Streptococus mutans e inibição fosfotransferase (MARSH,2005).
Por outro lado a clorexidina em altas concentrações tem efeito bactericida, provocando lise celular. A indicação da clorexidina tem ampla aplicação clínica em pacientes com diversas alterações na cavidade oral. Aos pacientes com alto risco de cárie foi sugerido o uso da clorexidina 0,12% como terapia para diminuição Streptococus mutans e lactobacillus. (SOUZA, 2007).
O uso frequente da clorexidina 0,12% pode causar a perda temporária do paladar e também alteração nos sabor dos alimentos (ALMEIDA; BASTOS, 2001).
Na realização deste estudo bibliográfico, durante as pesquisas nos artigos científicos ficou evidente que o colutório padrão ouro é a clorexidina 0,12% mas devemos entender que este por sua vez apresenta por uso prolongado perda tempóraria do paladar e deixa os dentes amarelos tais reações regridem após suspensão do uso.Diante dos dados podemos chegar conclusão que clorexidina 0,12% é melhor opção de colutório bucal para nossos pacientes internados nas unidades terapia intensiva lembrando aos senhores que só colutório bucal não resolve o problema de nossos pacientes devemos associar ao seu uso uma boa higiene bucal incluindo escovação dos dentes,usar raspador de lingua,passar fio dental e etc.
Vou colocar aqui alguns artigos relacionados ao tema.
REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO
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